Surabaya - terceiro dia de evento

Sábado - 23 de outubro

O sábado geralmente é o dia principal do evento. Onde a programação atinge seu ponto máximo, seja um show cultural, um workshop importante ou um batizado. Desta vez não foi diferente, o sábado foi o dia principal, mas o tema mudou: 12horas de capoeira. Pela primeira vez na Indonésia um evento começaria as 8h e terminaria as 20h sem break.

Em São Paulo a Escola Cultural Zungu Capoeira realizou duas edições deste evento. Uma maratona de capoeira e de cultura popular. Cansativo mas muito produtivo. Porém como seria em Surabaya?

Pensei (Cacá): Aqui nós já vivemos uma maratona muito intensa, portanto será somente mais um dia cheio de atividades. Engano meu!

Logo começou o dia, exatamente 8h05, uma aula de capoeira Angola, que aos poucos alguns alunos atrasados se juntavam aos aproximadamente 20 que iniciaram desde o começo. Muito bom o início.

Portanto uma idéia me veio a cabeça! Pararíamos de hora em hora para todos se abraçar e comemorar o momento. Garantia de integração e camaradagem pelo dia todo!

Após a aula fizemos uma Roda de Capoeira Angola. Todos os participantes jogaram um pouco e mostraram suas evoluções e seu potencial. Um povo muito talentoso.

Em seguida iniciamos uma vivência de Maculelê. Aproximadamente 1 hora de muito esforço físico. Mas a energia emocional colocada compensou a falta de energia física. Muito bonito ver o Maculelê desta forma. Uma dança com expressão guerreira, bem sugestivo ao povo Indonês e as nossas alunas do Timor. Guerreiros e batalhadores por natureza.

No intervalo para o almoço um momento de emoção e orgulho. Um pastor muçulmano local foi até a sede da Escola Cultural Zungu Capoeira em Surabaya para ritualizar a casa. Passou incenso para afastar os maus espíritos e atrair boas energias. Como já havia acontecido no ano passado, foi formada uma roda e após a oração o primeiro prato de comida me foi oferecido num gesto de respeito e para oficializar a nova casa da Escola como sede do trabalho em Surabaya.



Após o almoço uma atividade mais calma. Exibimos o filme: " Vida de Mandingueiro ", duração de 50 minutos e um breve bate papo sobre o filme após a exibição.

Voltamos ao salão de aula e nova classe de Capoeira. Um pouco de Capoeira Regional para os resistentes capoeiristas. Quando deu 16h, uma surpresa, quase 30 crianças chegaram para o restante das atividades. Ótimo! Intervalo de treinamento para os adultos com aula de bateria, ritmo e canto enquanto as crianças fazem uma aula de recreação e capoeira. Caiu como uma luva.

Ao final desta atividade reunimos todos os participantes e fizemos uma grande roda com as crianças. Contagiante!

Eram 18h, dispensamos as crianças e continuamos com uma roda somente para os adultos que resistiam desde às 8h da manhã. Mesmo assim o ritmo se manteve no auge. Parada para um recado e novas surpresas: Entregamos algumas cordas (graduações) aos alunos que se destacaram nos últimos tempos.

Mas não acabou, alguns lideres pediram um espaço de 10 minutos para nós, que eles gostariam de nos mostrar uma coisa. Confesso que meu corpo já tinha se entregado. Minha alma estava ali porque a força maior me deu esta missão eu iria até o final.

SURPRESA: Nos colocaram lado a lado em 3 cadeiras de costas para a porta de entrada e de frente para nós o Anedota (aluno de Surabaya que foi ao Timor nos acompanhando) as 2 meninas do Timor (Simpatia e Diva) e a Odalisca (aluna de Bali). O Anedota começou a tocar o violão e as meninas a cantar uma canção que fala de paz na língua Timorense, o Tétun, que por sinal nos fez chorar em Dili no dia da despedida! Quando elas começaram a cantar ja foi dificil de segurar as lágrimas, porém de forma inesperada entraram todos os alunos indoneses perfilados com papéis nas mãos cantando a música em conjunto com as meninas. Detalhe, um grupo Indonês cantando uma canção de paz em Tétun, sem palavras!!!!!!!! O tema do evento estava confirmado e as lágrimas voltaram a cair...

Após esta impagável emoção fechamos as 12 horas com um Samba de roda para brasileiro nenhum colocar defeito... Muita alegria, vadiação, integração e gasolina para a alma e o corpo continuarem lutando pela PAZ!

Não foi fácil as 12 horas de capoeira, mas se eu pudesse viver todos os dias 12 horas como aquelas 12 horas vividas em Surabaya, passaria todos os dias da minha vida feliz!